Prof. Dr. Antonio Donizeti Fernandes
Toda memória é dor
Assim como também o é todo
conhecimento
E todo desconhecimento
Toda memória é identidade
Mas também é usurpação
Para não dizer “usurpamento”
Em português não
conhecemos esta sufixação
Para melhor entendimento
do processo de branqueamento
Houve um tempo em que a
memória se fez
Antes de tudo pelo
esquecimento
“Anos de chumbo”
Era do rádio
Estado Novo
Era da ciência e da modernidade
Do cientificismo dos
Ninas, Viannas e Euclides:
Positivismo, culturalismo,
estruturalismo, marxismos...
Boas, Freyre e Fry: convivas
e convívios
Dos males que vem do suor
e do sangue africano...
Aos males do seu biotipo
De marca e do lugar
Esquecer a selvageria e
assimilar a civilização, grande (negó)cio e ideal-tipo
Desigualdade
Lida e ensinada pelas “diferenças
naturais dos homens” e do mercado
“Classes sociais, status e
partidos”: “sempre foi assim!”
“Sabe com quem está
falando?”
Navegação social
Ditos, não ditos, enganos,
sugeridos...
Pressupostos, “dialética
da malandragem” e salvos-enganos malditos
Todos sabem
E, senão sabem, deveriam
aprender e a ensinar
“Você sabe qual é o seu
lugar!” “Não sabe?”
Para memória de Zumbi
Contra aqueles que
insistem em regar a árvore do esquecimento em novo arremedo:
“O povo negro quer ser visto como vítima da
história”
Alegoria etnocêntrica de
Próspero e seu espelho
Invenção da liberdade concedida
Que viva o líder Palmarino
Assombração da memória e
das caricaturas feitas pelas elites.
Árvore da memória, ressignificada e denominada pelos traficantes portugueses como a árvore do esquecimento ao obrigarem os futuros escravos a darem volta ao seu redor. Uma tentativa clara de quebra de resistência, adestramento e receio , também , do que elas poderiam representar do ponto de vista mágico-religioso.
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Limpeza da estátua de Zumbi, Rio de Janeiro, em novembro de 2013. |
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